Companheiros e Amigos,
Eis a forma mais distinta de rotular um cromo de
mentecapto, responsabilizando-o pelas cretinices de um energumeno, consentidas
pelo povo que ainda não aprendeu a escolher Homens íntegros que governem com
seriedade o seu País.
Aplaudo de pé o texto que classifica com brilhantismo
algo basso e cinzento que caracteriza a nossa primeira figura da nação que
consegue ofuscar negativamente, a triste imagem de Américo Tomás.
Digo eu. Abraço.
Carta aberta; Soberbo texto
Carta Aberta ao venerando chefe do estado a que isto
chegou
Senhor Presidente
Há muito muito tempo, nos dias depois que Abril floriu
e a Europa se abriu de par em par, foi V.Exa por mandato popular encarregue de
nos fazer fruir dessa Europa do Mercado Comum, clube dos ricos a que iludidos
aderimos, fiados no dinheiro fácil do FEDER, do FEOGA, das ajudas de coesão e
mais liberalidades que, pouco acostumados, aceitámos de olhar
reluzente, estranhando como fácil e rápido era passar de rincão estagnado e
órfão do Império para a mesa dos poderosos que, qual varinha mágica, nos
multiplicariam as estradas, aumentariam os direitos, facilitariam o crédito e
conduziriam ao Olimpo até aí inatingível do mundo desenvolvido.
Havia pequenos senãos, arrancar vinhas,
abater barcos, não empatar quem produzisse tomate em Itália ou conservas em
Marrocos, coisa pouca e necessária por via da previdente PAC, mas, estando o
cheque passado e com cobertura, de inauguração em inauguração, o país antes
incrédulo, crescia, dava formação a jovens, animava a construção civil , os
resorts de Punta Cana e os veículos topo de gama do momento.
Do alto do púlpito que fora do velho Botas, V.Exa
passaria à História como o Modernizador, campeão do
empreendedorismo, símbolo da devoção à causa pública,
estóico servidor do povo a partir da marquise esconsa da casa da Rua do
Possôlo.
Era o aplicado aluno de Bruxelas, o exemplo a seguir
no Mediterrâneo, o desbravador do progresso, com o mapa de estradas do ACP
permanentemente desactualizado. O tecido empresarial crescia, com pés de barro
e frágeis sapatas, mas que interessava, havia pão e circo, CCB e
Expo, pontes e viadutos, Fundo Social Europeu e tudo o que mais se quisesse
imaginar, à sombra de bafejados oásis de leite e
mel, Continentes e Amoreiras, e mais catedrais escancaradas com um simples
cartão Visa.
Ao fim de dez anos, um pouco mais que o Criador ao fim
de sete, vendo a Obra pronta, V.Exa descansou, e retirou-se. Tentou Belém, mas
ingrato, o povo condenou-o a anos no deserto, enquanto aprendizes prosseguiam a
sanha fontista e inebriante erguida atrás dos cantos de sereia, apelando ao
esbanjamento e luxúria.
No início do novo século, preocupantes sinais do
Purgatório indicaram fragilidades na Obra, mas jorrando fundos e
verbas, coisa de temerários do Restelo se lhe chamou. À porta estava
o novo bezerro de ouro, o euro, a moeda dos fortes, e fortes agora com ela
seguiríamos, poderosos, iguais. Do
retiro tranquilo, à sombra da modesta reforma de
servidor do Estado, livros e loas emulando as virtudes do novo filão
foram por V.Exa endossados, qual pitonisa dos futuros que cantam, sob o euro
sem nódoa, moeda de fortes e milagreiro caminho para o glorioso domínio da
Europa.
Migalha a migalha, bitaite a bitaite, foi V.Exa
pacientemente cozendo o seu novelo, até que, uma bela manhã de nevoeiro, do
púlpito do CCB, filho da dilecta obra, anunciou aos atarantados povos estar de
volta, pronto a servir. Não que as gentes o merecessem, mas o país reclamava
seriedade, contenção, morgados do Algarve em vez de ostras socialistas. Seria o
supremo trono agora, com os guisados da Maria e o apoio de esforçados amigos
que, fruto de muito suor e trabalho, haviam vingado no exigente
mundo dos negócios, em prol do progresso e do
desenvolvimento do país.
Salivando o povo à passagem do Mestre, regressado dos
mortos, sem escolhos o conduziram a Belém, onde petiscando umas pataniscas e
bolo-rei sem fava, presidiria, qual reitor, às traquinices dos
pupilos, por veladas e paternais palavras ameaçando reguadas ou
castigos contra a parede. E não contentes, o repetiram segunda vez, e V. Exa,
com pungente sacrifício lá continuou aquilíneo cônsul da república, perorando
homilias nos dias da pátria e avisando ameaçador contra os perigos e tormentas
que os
irrequietos alunos não logravam conter.
Que preciso era voltar à terra e ao arado, à faina e à vindima, vaticinou
V.Exa, coveiro das hortas e traineiras; que chegava de obras faraónicas,
alertou, qual faraó de
Boliqueime e campeão do betão; que chegava
de sacrifícios, estando uns ao leme, para logo aconselhar conformismo e
paciência mal mudou o piloto.
Eremita das fragas, paroquial chefe de família,
personagem de Camilo e Agustina, desprezando os políticos profissionais mas
esquecendo que por junto é o profissional da política há mais anos no poder,
preside hoje V.Exa ao país ingrato que, em vinte anos, qual bruxedo ou mau
olhado, lhe destruiu a obra feita, como vil criatura que desperta do covil se
virou contra o criador, hoje apenas pálida esfinge, arrastando-se entre a
solidão de Belém e prosaicas cerimónias com bombeiros e ranchos.
Trinta anos, leva em cena a peça de V.Exa no palco da
política, com grandes enchentes no início e grupos arregimentados e idosos na
actualidade. Mas, chegando ao fim o terceiro acto, longe da epopeia em que o
Bem vence o Mal e todos ficam felizes para sempre, tema V.Exa pelo juízo da
História, que, caridosa, talvez em duas linhas de rodapé recorde um fugaz
Aníbal, amante de bolo-rei e desconhecedor dos Lusíadas, que durante uns anos
pairou como Midas multiplicador e hoje mais não é que um aflito Hamlet nas
muralhas de Elsinore, transformado que foi o ouro do bezerro em serradura e
sobrevivendo pusilâmine como cinzento Chefe do estado a que isto chegou, não
obstante a convicção, que acredito tenha, de ter feito o seu melhor.
Respeitoso e Suburbano, devidamente
autorizado pela Sacrossanta Troika
António Maria dos Santos
Sobrevivente (ainda) do Cataclismo de 2011
Estava a ler este texto ( que aplaudo de pé) e na televisão que tenho á minha frente vejo um Grupo que veio da Póvoa do Varzim pelo que percebi cantar as Janeiras ao Sr. Presidente e Exma. Senhora, e recordei o velho Almirante Thomas, que também era «danado para a brincadeira» a receber os foliões na companhia da sua Gertrudes e da filha Natália, é certo que ao contrário do Almirante, Cavaco é um Democrata, Cavaco até está contra o corte dos subsídios! só teve uma branca na altura de promulgar o Orçamento de Estado e assinou mesmo, acontece aos melhores.
ResponderEliminarEstamos bem servidos.
Um abraço
Virgílio