Subscrevo aqui, por completo, este 'aliviar de consciência' do mui ilustre (e por isso arredado) Baptista Bastos. Produziu em palavras sábias o meu pensamento.
Não é mal-querença. é, tão simplesmente, a constatação de uma atitude permanente, duma fuga ás responsabilidades (suas) como se o mundo fosse uma corja de ignorantes pacóvios que, mandatóriamente, apenas lhes compete abanar a cabeça (cima a baixo, claro).
Por mim estou cansado, da política arrogante, sem tino, e, pior que tudo, lesiva do povoléu abstracto que só ouve bacoradas e se consome na tradicional característica portuguesa de 'ir em frente' não importa que contrariedade.
Não envolve este 'desarrincanço' nenhuma desculpa, antes pelo contrário, dos políticos de primeira linha que se seguiram. Foi, tão só, uma expiral de progressão aritmética incompetente, arrivista, falaciosa, mafiosa, ao pior estilo sul-americano (com desculpa aos ditos cujos - aprendizes de feiticeiros), exponencialmente multiplicadora. Como diria a minha avózinha, rapariga extraordinariamente perspicaz na aplicação dos antigos ditados, - atrás e mim virá quem de mim bom fará.
Meus amigos, há que suportar com o estoicismo herdado de valentes antepassados (os nossos, porque os deles dependeram de outra estirpe que me recuso a identificar/classificar), as agruras que este bando de malfeitores nos impõem.
CAVACO SILVA
A pátria, estarrecida,
assistiu, nos últimos dias, à declaração de pobreza do dr. Cavaco, e aos ecos
dessa amarga e pungente confissão.
O gáudio e o
apoucamento, a crítica e a repulsa foram as tónicas dominantes das emoções.
Os blogues, aos
milhares, encheram-se de inauditos gozos, e a Imprensa, grave e incomodada,
não deixou de zurzir no pobre homem.
Programas de
entretenimento matinal, nas têvês, transformaram o coitado num lázaro
irremissível.
Até houve um peditório,
para atenuar as suas preocupações de subsistência, com donativos entregues no
Palácio de Belém.
Porém, se nos
detivermos, por pouco que seja, no dr. Cavaco e na sua circunstância
notaremos que ele sempre assim foi: um portuguesinho no Portugalinho.
Lembremo-nos desse cartaz hilariante, aposto em tudo o que era muro ou parede, e no qual ele aparecia, junto de um grupo de enérgicos colaboradores, sob o extraordinário estribilho: "Deixem-nos trabalhar!"
Cavaco governava pela
primeira vez e os publicitários colocaram-no e aos outros em mangas de camisa
arregaçadas.
Os humoristas de
serviço rilharam os dentes, de gozo, mas a época não era propícia à ironia.
O País tornou-se numa
espécie de imagem devolvida do primeiro-ministro: hirto, um espeque rígido,
liso, um carreirinho de gente cabisbaixa.
O respeitinho é muito lindo: essa marca d'água do salazarismo regressava para um país que perdera a noção do riso, se é que alguma vez o tivera.
Cavaco resulta desse
anacronismo que fede a mofo e a servidão.
É um sujeito de
meia-tijela, inculto, ignorante das coisas mais rudimentares, iletrado e,
como todos os iletrados, arrojado nas afirmações momentâneas.
As suas
"gaffes" fazem história no anedotário nacional.
É um Américo Tomás tão
despropositado, mas tão perigoso como o original.
Manhoso, soube aproveitar o momento vazio, no rescaldo de uma revolução que também acabou no vazio.
Os rios de dinheiro
provindos de Bruxelas, e perdulariamente gastos, durante os infaustos anos
dos seus mandatos,
garantiram-lhe um lugar de aplauso nas consciências desprotegidas dos portugueses.
Este apagamento da
verdade está inscrito, infelizmente, numa Imprensa servida por estipendiados,
cuja virtude era terem o cartão do partido.
Ainda hoje essa endemia
não foi extirpada.
Repare-se que, fora
alguns escassos casos isolados, ainda não foi feita a crítica aos anos de
Cavaco e das suas trágicas consequências políticas, ideológicas, morais e
sociais.
Há uma falta de coragem
quase generalizada, creio que explicada pela teia reticular de cumplicidades,
envolvendo poderes claros e ocultos.
A mediocridade da personagem é cada vez mais evidente.
E se, no desempenho das
funções de primeiro-ministro, foi sustentado pela falsa aparência de el
dourado, devido aos dinheiros da Europa, generosamente distribuídos por
amigos e prosélitos, como Presidente da República é uma calamidade afrontosa.
Tornou o lugar
desacreditante e desacreditado.
Logo no primeiro dia da sua entrada no palácio de Belém, o ridículo até teve música.
Um país espavorido
assistiu, pelas televisões, sempre zelosas e apressuradas, àquela cena do dr.
Cavaco, mãos dadas com toda a família, a subir a rampa que conduz ao Pátio
dos Bichos, e ao interior do edifício.
Um palácio que não
merecia recolher tal inquilino.
Mas ele é mesmo assim:
um portuguesinho no Portugalinho, um inesperadamente afortunado algarvio, sem
história nem grandeza, impelido para o seu peculiar paraíso.
A imagem da subida da
ladeira possui algo de ascensão ao Olimpo, com aquelas figuras muito felizes,
impantes, formais, intermináveis.
Mas há nisto um
panteísmo marcadamente ingénuo e tolo, muito colado a certa maneira de ser
portuguesinho e pobrezinho: tudo em inho, pequenininho, redondinho.
Cavaco nunca deixou de ser o que era.
Até no sotaque que não
perdeu e o leva a falar num idioma desajeitado; no inábil que é; no piroso
corte de cabelo à Cary Grant; no embaraço que sente quando colocado junto de
multidões ou de pessoas que ele entende serem-lhe "superiores."
Repito: ele não dispõe
de um estofo de estadista, e muito menos da condição exigida a um Presidente
da República.
O discurso da sua pobreza resulta de todas essas anomalias de espírito.
Ele tem sido um
malefício para o País.
É ressentido,
rancoroso, vingativo, possidónio e brunido de mente.
Mas não posso deixar de
sentir, por este pobre homem, uma profunda compaixão e uma excruciante
piedade.
b.bastos@netcabo.pt |
Conhecido no meio Jornalístico pelas iniciais do seu nome, B.B. um Senhor do Jornalismo escrito Português, que acompanhei anos a fio nos «defuntos» Diário Popular e Republica, que as televisões nunca quiseram, (sabe-se lá porquê), ou melhor sabemos que algumas verdades doem, e os amos podem não gostar, sabemos todos que «vale mais uma imagem que mil palavras».
ResponderEliminarUm abraço
Virgílio